sábado, 28 de outubro de 2017

O Milagre Acontece

Após a sua chegada muitas noites foram passadas ao seu lado, para que se sentisse protegido e não chorasse. Ali ficava eu sentada nos degraus daquela escada de madeira antiga, encostada à parede, onde dormitava alguns minutos e voltada a despertar para saber se ele estava a dormir. Assim que ele adormecia tentava subir as escadas para me deitar um pouco e descansar, mas assim que ele me sentia partir, voltava a chorar.
No fundo a partir do momento em que entrou na minha casa eu passei a ser a sua mãe. Por isso permito-me de lhe chamar e tratar como um filho. Não é isso que acontece com os bébés? Levantarmo-nos a meio da noite porque choram? Assim o fiz por ele também, logo a ligação ficou mais forte. Se calhar muitos o deixariam ali a chorar a noite toda para que se habituasse a estar só... Mas eu não sou assim.

Nessa altura eu não trabalhava, logo tinha o tempo todo para o meu principe, brincava com ele, educava-o... Ele era tão engraçado, tão pequenino, era do tamanho da palma da minha mão, era engraçado vê-lo correr tropeçando em si mesmo, levantando-se tão depressa como caía. A sua energia parecia ilimitada, nunca se cansava corria a casa toda.

As suas idas ao veterinário eram autênticas comédias, na sala de espera cães enormes e ele tão pequeno era o centro das atenções. Desde o início nunca foi dificil dar-lhe a vacinação, até o veterinário ficava admirado porque por norma esta raça de cães, apesar do seu tamanho, gosta de liderar e são um pouco agressivos. Nas sucessivas idas ao veterinário e em conversas com utentes que já tinham tido Pinschers, o que me diziam era que mesmo tendo cães de grande porte em casa junto com um pinscher, era ele que liderava a "matilha", por exemplo era o primeiro a comer, e rosnava aos outros... Ou seja, características que eu não encontrava no Lucky, verdade que era só ele em casa, mas era dócil mesmo para outros cães, para as pessoas, ladrava pouco (outra das caracteristicas desta raça é que ladram muito, são ótimos cães de guarda apesar do seu tamanho). Ele sempre teve uma cacterística que me surpreendeu, nunca quis liderar em casa, aliás sempre que eu falava com ele para o repreender de alguma asneira que tivesse feito,  ele baixava a cabeça e olhava-me de uma forma tão ternurenta, que por vezes era difícil manter o castigo. Para ele, eu era o líder.

Na primeira vez que saímos de casa com ele para uma caminhada, ia sendo atacado por um gato. O gato fazia três vezes o seu tamanho, não sei ao certo o que ele pensou que seria aquele animal tão pequenino, teria-o confundido com um rato? Agora que penso nisso acho hilariante, mas na altura não achei graça alguma, tive de gritar para o gato ir embora e pegar no meu lindinho ao colo, confesso que fiquei com medo.

Quando vínhamos ao jardim era vê-lo correr de um lado para o outro, perdendo-o de vista no meio das flores e relva envolventes. Nessa altura vivíamos numa casa, que derivado ao tamanho foi dividida em duas, eu morava na parte da frente da casa e nas traseiras vivia uma senhora idosa. 
À medida que o tempo foi passando formos nos tornando amigas. Ela era super simpática e vivia sozinha, era bastante elegante e tinha uma voz doce e meiga. Foi com ela que comecei a praticar o meu francês.

Antes de começar a trabalhar inscrevi-me num curso de francês para emigrantes e a minha vizinha fazia de babysiter do Lucky. Nos dias do curso preparava-me, pegava no Lucky e deixava-o com ela. Ela adorava-o porque ele era meiguinho e ele também gostava muito dela, aliás assim que eu falava no nome dela ele abanava o rabo de felicidade. 
Mas o Lucky não é um cão qualquer, tem uma capacidade de aprendizagem que me surpreendia, ele percebia quando lhe falavam em Português, Francês e até Inglês. Pois é, ensinámos-lhe algumas ordens nessas línguas e ele obedecia...Era uma fofura!


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